A Questão de Limites na Educação - Cristina Botelho

17/06/2011 16:08

Muito se discute sobre uma suposta crise moral e ética na sociedade atual. Pais e educadores preocupam-se com a formação das crianças. O termo “limite” é empregado com frequência. Segundo o dicionário Aurélio, limite quer dizer: linha de demarcação real ou imaginária que separa dois terrenos ou territórios contíguos. É uma fronteira, uma divisa. Fixa e estipula.

Na verdade, o termo é usado na Psicologia e na Educação num sentido bem amplo: limite pode ser pensado como um obstáculo a ser transposto para se alcançar uma virtude, por exemplo como uma proteção da intimidade da pessoa e também como fronteiras que devem ser respeitadas para a construção da moralidade da criança. É sobre este último aspecto que vamos nos ater.

A formação do psiquismo infantil só pode florescer dentro de um quadro referencial seguro. A aplicação de regras e limites provê a estabilidade emocional necessária, isto é, fornece as indicações de quando se deve ou não transpor limites.

Os filhos entendem a disciplina como prova de amor dos pais e sua falta como indiferença dos mesmos. Isto também ocorre na relação entre alunos e professores.

A disciplina é aplicação constante de regras e limites. Se você for inconstante em estabelecer padrões para um comportamento aceitável, se não os exigir sempre, a criança sentirá que suas regras são fracas. Isto tende deixá-la insegura. Estabelecer regras e limites dá certa previsibilidade entre a ação de uma criança e a reação do mundo. A previsibilidade reduz a ansiedade e a incerteza.

Regras razoáveis promovem a disciplina. Se as regras estabelecidas são tão pouco realistas que você não as pode exigir constantemente, sob a pena de sentir-se cruel, você certamente será inconstante. Não é raro, e muitas vezes compreensível, que aborrecida a mãe diga a seu filho: “Se não terminar o almoço, vai passar a tarde toda no quarto”. Isto costuma deixar um grande sentimento de culpa e o castigo é logo retirado. O efeito educativo não acontece.

Tanto quanto possível a punição deve corresponder à falta. Privar um menino de brincar de futebol só porque não escovou os dentes de manhã é errado. Jogar futebol nada tem a ver com escovar os dentes, e não se constitui uma falha que mereça castigo tão severo. Seria mais apropriado levá-lo ao banheiro e ficar olhando enquanto ele escova os dentes. Alguns pais e educadores utilizam a brincadeira e fazem apostas para ver quem escova mais rápido. Nem sempre o limite precisa ter um caráter solene, pode ser divertido também. A criança aprende sem constrangimento e restrições.

Pesquisas indicam que a recompensa é mais eficaz do que a punição como medida disciplinar. Recomendam-se aprovação e afeição como formas de reforçar o comportamento e não recompensas materiais. Dar objetos em retribuição por uma conduta aceitável tende a dar maior ênfase sobre coisas materiais do que se devia, simplesmente porque, como todos sabem, as satisfações materiais na vida nunca serviram para criar qualquer sensação duradoura de prazer.

Aceitação e afeição deixam a criança sensível aos sentimentos dos outros, mais consciente do mundo e ensinam que as recompensas provêm da interação humana. Cedo, a criança compreende que sentir prazer e alegria nas relações com os outros traz muita felicidade. Aprender isto serve para combater a ganância, a violência e a hostilidade que têm afligido a Humanidade.

 

* Cristina Grigorowsky Botelho é psicóloga e mestre em Psicologia, e professora dos cursos de Pedagogia, Matemática e Ciências Biológicas do UNIFESO