O BULLYING E A EDUCAÇÃO - Cristina Grigorowsky Botelho

25/05/2013 11:11

    O bullying pode ser um fenômeno antigo na educação em qualquer parte do mundo, mas só recentemente ganhou nome e notoriedade no Brasil como um problema a ser estudado, combatido e extinto. É comum alguns estudantes queixarem-se com o professor por pura brincadeira dizendo: “Professor! O fulano me chamou de chato, isto é bullying!”. Quando se está ao nível da brincadeira tudo bem, o problema é quando por qualquer motivo o aluno acha que está sofrendo bullying. Nem sempre um xingamento ou uma implicância qualquer é bullying.

    Qual a diferença entre um conflito interpessoal e bullying? Na verdade não existe convívio entre seres humanos sem desentendimentos. As crianças bem pequenas já reagem aos outros mordendo, empurrando, batendo, mesmo quando ainda nem falam direito. Ao experimentar a relação com outro, em suas várias nuances, a criança aprende a se relacionar em grupo. É notável a diferença de uma criança que nunca frequentou a escola até os cinco/seis anos para aquela que já está na escola desde o maternal.

    A questão consiste em ir além das regras escolares ou dos conteúdos acadêmicos, mas está na esfera da socialização: saber conviver em grupo, trocar, dividir, negociar, saber ouvir e calar quando necessário. O traquejo social é ato importante e começa na pré-escola e se estende pelos anos seguintes. Cada idade tem um novo desafio.

    O professor funciona como um mediador de conflitos, constantemente é chamado para intervir, afinal é uma figura de referência para as crianças. Os alunos têm personalidades diferentes e padrões familiares distintos de funcionamento. Cada qual testa os colegas e o professor. Estabelece-se um jogo de poder. É assim na escola, é assim na vida.

    O bullying é um conflito interpessoal de caráter patológico. Acontece quando um ou mais estudantes praticam atitudes agressivas, intencionais e repetitivas sem motivação evidente, intimidando a(s) vítima(s), causando dor e angústia em pessoas que não conseguem se defender seja por questões de status, compleição física, baixa auto-estima e outros.

    No fenômeno do bullying existem os agressores e as vítimas. Os agressores sentem prazer em humilhar, bater, rir e amedrontar os outros.  Só conseguem seu intento quando encontram uma vítima. Neste fenômeno há, ainda, aqueles que são os expectadores: não agridem, mas não fazem nada para impedir. São coniventes com os atos de brutalidade.

    Verificar se as crianças se encontram nesses papéis é averiguar suas reações às diferenças. O bullying existe por uma intolerância à diversidade. O outro é o depositário de raivas, medos, ressentimentos do agressor. É o “bode expiatório” para os seus problemas. O agredido não precisa ser necessariamente tão diferente, basta ele acreditar que é, e essa diferença o torna inferior. Pronto, assim se estabelece o conflito.

    Na escola, os bullies (agressores) costumam colocar apelidos pejorativos, difamar, constranger, bater e ameaçar os outros. Em casa, podem apresentar atitudes de desafio diante dos familiares, negam comportamento agressivo na escola, culpando sempre os outros. Muitos se fazem de vítimas, mentindo de forma convincente. Costumam chegar em casa com pertences estranhos e são ótimos para se livrar de apuros. Têm desculpas para tudo.

    Os agredidos (vítimas) são geralmente pouco enturmados na escola, ansiosos, retraídos, faltosos, queixosos de dores ou outras manifestações relacionadas à saúde. Em casa, costumam sentir dores de cabeça, enjôo, aumento ou ausência de apetite, insônia e outros. Frequentemente, passam mal perto da hora de ir para escola. Quase não recebem telefonemas, e-mails, mensagens, etc. Parecem não ter vida social.

    É responsabilidade dos pais e da escola ensinar a criança, na mais tenra idade, a resolver conflitos com diálogo e cooperação. Assim como intervir nos casos de conflitos e saber que sempre existirão, mas que podem ser solucionados de forma pacífica.

    Educar para a paz é tarefa árdua num mundo onde grassa a violência. A família e a escola devem estar unidas procurando acertar o compasso no intento de formar pessoas justas e humanas.